Num cenário muito mais apertado do que se esperava, a apuração oficial das eleições uruguaias apontou uma disputa voto a voto pela Presidência entre o candidato de centro-direita Luis Lacalle Pou e seu adversário da governista Frente Ampla , Daniel Martínez. A pouca diferença de votos, que era de menos de dois pontos percentuais com quase todas as urnas apuradas, fez com que a Corte Eleitoral anunciasse que o resultado oficial só seria conhecido entre quinta e sexta-feira. Com 97,97% das mesas de votação apuradas, Lacalle Pou tinha 48,74% dos votos, contra 47,48% de Martínez.
Os dois partidos denunciaram irregularidades e será necessário fazer a revisão de alguns votos. Além disso, os chamados “votos observados” — de pessoas que votam fora de sua jurisdição eleitoral normal — são em maior número do que a diferença entre os dois candidatos. Como esses votos têm apuração mais lenta, pois os dados dos eleitores têm de ser confirmados antes de sua validação, a Corte Eleitoral decidiu adiar os resultados. De qualquer modo, o jornal El Observador indicou que para vencer a eleição, Martínez teria de ter 93% dos votos observados, que somam 35.262.
A apuração acirrada contraria previsões das pesquisas antes do pleito, que indicavam uma vantagem de pelo menos cinco pontos percentuais a favor de Lacalle Pou. Após a divulgação das primeiras pesquisas de boca de urna, as comemorações na sede do Partido Nacional, de Lacalle Pou, foram interrompidas. Ele é líder de uma aliança de cinco partidos, entre eles o Nacional, Colorado e Cabildo Abierto (lançado pelo ex-chefe do Exército Guido Manini Rios) e, se sua eleição for confirmada, assumirá o poder em março de 2020, quando seria encerrado um ciclo de 15 anos de governos de esquerda no Uruguai.
O clima em Montevidéu era de incerteza e cautela em ambas as alianças eleitorais. A euforia entre aliados de Lacalle Pou transformou-se em preocupação, e muitos de seus colaboradores já admitiam que o candidato de centro-direita poderia vencer por menos de um ponto percentual. — Se o resultado for o que esperamos será um triunfo de todos, não cheguei até aqui sozinho — declarou Lacalle Pou um pouco antes de divulgadas as primeiras pesquisas de boca de urna, em sua sede de campanha na capital uruguaia.
Fazia menos de uma hora que a votação tinha terminado e o candidato de centro-direita confiava em comemorar seu triunfo na noite de domingo. Ninguém imaginava que três horas depois a Corte Eleitoral anunciaria o adiamento da proclamação do resultado por até cinco dias. Do lado da Frente Ampla, a apuração acirrada criou expectativa de uma virada favorável a aliança governista. Seja qual for o resultado, esta foi a eleição mais difícil para a Frente Ampla, que chegou pela primeira vez ao poder em 2005 com Vázquez, reeleito em 2015. Seu segundo mandato foi muito mais difícil do que o primeiro já que a economia entrou num delicado processo de desaceleração e este ano a previsão é de crescimento de apenas 0,6%.
As principais demandas da sociedade uruguaia atualmente são a retomada do crescimento e melhora dos indicadores de segurança pública. Em ambos aspectos, a Frente Ampla não conseguiu mostrar resultados positivos no segundo governo de Vázquez e isso explica, em grande medida, o melhor desempenho da oposição nesta eleição. Segundo analistas locais, nos últimos anos a aliança esquerdista perdeu em torno de 200 mil votos, o que representa cerca de nove pontos percentuais.
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