Finalmente prevaleceu o bom senso e a Petrobras anunciou, em 21/11/2019, o arrendamento das fábricas de fertilizantes nitrogenados que possui na Bahia e em Sergipe,ao invés de sua anunciada hibernação. A vencedora foi a Proquigel Química S.A.integrante do Grupo Unigel. A manifestação contrária à paralisação feita pelos empresários brasileiros, principalmente dos da Bahia e Sergipe, reforçada pelos pronunciamentos da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (ANDA) e a Associação Nacional da Indústria Petroquímica e Produtos Derivados (Abiquim) chegou aos ouvidos da estatal e a fez refazer as contas e licitar a locação.
De acordo com os dados divulgados pela ANDA a colheita da safra de 2018/2019 atingiu a marca de 339,2 milhões de toneladas, sendo 226,4 de produtos de exportação e 112,8 de produtos de consumo interno. A produção de grãos, ai incluída, foi de 229,5 milhões de toneladas. Tal acontecimento fez com que se registrasse em 2018 o maior volume de entregas de fertilizantes da história agrícola do Brasil com 35,5 milhões de toneladas. Diante desse cenário a Petrobras pretendia fechar as duas maiores fábricas de fertilizantes do Brasil, ainda por cima, localizadas no Nordeste.
Do total de 35,5 milhões de toneladas aparentemente consumidas pela agropecuária brasileira, 18,8 foram constituídas de nutrientes nitrogenados, fosfóricos e potássicos. Dos nutrientes nitrogenados apenas 590 mil toneladas foram produzidas no Brasil e 4,0 milhões importadas (74,9%), revelando a elevada vulnerabilidade do agronegócio nesse particular. Deveríamos, portanto, estar abrindo novas fábricas, ao invés de fecharmos as poucas existentes, já que as matérias primas são o gás natural (metano) e o nitrogênio, este extraído do ar atmosférico.
As duas fábricas, Fafen BA, localizada em Camaçari, e a Fafen SE, localizada em Laranjeiras, além de contribuírem com impostos e garantirem o funcionamento de empresas misturadoras de fertilizantes, empregavam diretamente antes da paralisação 1.364 empregados. Além disso, segundo dados divulgados pela Abiquim, a FafenBA e a FafenSE possuem capacidade de produção conjunta de 36,3 mil toneladas de ácido nítrico, cerca de 1,0 milhão de toneladas de amônia e mais de 1,1 milhão de toneladas de ureia, e outros produtos obtidos no processo industrial. Elas atendem toda a cadeia de fertilizantes e são integradas à indústria química brasileira fornecendo insumos a mais de 20 cadeias produtivas, sendo mais de 10 fábricas só no Polo Industrial de Camaçari. Tornar-se-ia incalculável o prejuízo que o fechamento dessas fábricas traria para a indústria química nacional.
Vale a pena lembrar que as regiões Sul e Sudeste, por possuírem melhor e mais completa infraestrutura, disporem de maior oferta de insumos, matérias primas e utilidades, terem um mercado consumidor mais próximo e elevado, e serem donos de número privilegiado de recursos humanos de melhor formação acadêmica e de treinamento em tarefas operacionais da indústria, atraiam mais investimentos geradores de empregos e tributos do que o Nordeste. O governo Federal e as empresas que controla, não podem deixar de aproveitar as poucas oportunidades que têm de investir no Nordeste. É natural que os capitalistas procurem as regiões mais atrativas, de menor risco e de menor tempo de maturaçãopara implantarem seus negócios, cabendo ao governo induzir a desconcentração da atividade econômica.
A Unigel tem como principal acionista o engenheiro químico Dr. Henri Armand Szlezynger e é a segunda maior empresa petroquímica da Bahia e do País. Aliás, em 15 julho deste ano, ele foi condecorado com a Medalha do Mérito Conde dos Arcos, outorgada pela Associação Comercial da Bahia (ACB) no dia em que comemorava 208 anos de sua fundação. O Dr. Henri, que agora tem um belo desafio pela frente, merece receber dos governantes todo o apoio para que se desincumba bem da importante tarefa e continue a colaborar com o fortalecimento econômico do Nordeste.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor – [email protected]
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