Trinta fotografias em preto e branco, que valorizam as curvas de cinco mulheres gordas e negras, serão expostas na mostra Nossas Curvas Não Se Curvam, que será lançada no Museu Tempostal (Pelourinho) nesta quarta-feira (20), às 10h. A data não poderia ser mais oportuna, afinal é quando se comemora o Dia da Consciência Negra.
Clicadas por Dudu Assunção, as fotos retratam as modelos Carla Emanuela, Ilza Bitencourt, Jamille Teles, Laura Raquel e Simone Costa. Todas elas agenciadas por Cynthia Paixão, Deusa do Ébano do Ilê Aiyê 2014 e criadora da agência Casting Plus Bahia, só de modelos gordas. “Mensalmente produzimos conteúdos para as redes sociais, e meu interesse é visibilizar essas mulheres, mas também dar um suporte emocional, psicológico. Nossa agência quer mostrar às empresas que essas mulheres podem estampar publicidade, atrair clientes, mas também queremos ser um grupo de apoio umas para as outras”, explica Paixão.
A ideia de fazer do ensaio uma exposição veio junto com as suas reflexões acerca da representatividade. “Tinha visto uma exposição também no Museu Tempostal com pessoas com deficiência física, e desde então imaginei que seria bacana fazer uma mostra com fotografias de mulheres gordas. Como o novembro estava próximo, foquei nas modelos negras da agência”, conta. O ensaio, feito em setembro, contou com outras dez mulheres.
O empoderamento e a luta da mulher negra plus size contra o preconceito também vai ser tema de um bate-papo mediado por Cynthia na próxima sexta (22), às 14h. “O objetivo é promover a reflexão a respeito dos direitos e qualidades da mulher negra plus size na sociedade. Incentivá-las a ocuparem os seus lugares de fato e a serem protagonistas de suas próprias histórias, lutando contra o preconceito e valorizando-se”, explica a curadora.
Cynthia destaca que o ensaio que deu a origem à exposição foi o primeiro de muitas das modelos. “Tudo isso é muito novo para elas, que estavam com roupa de banho para as fotos. Então, houve alguns desconfortos inicialmente, mas isso faz parte do processo de aceitação. Conversamos todo o tempo, fizemos fotos em grupo também, discutimos como queríamos as fotos, e isso fez com que elas se sentissem mais à vontade”, lembra.
O fotógrafo Dudu Assunção conta que em como ensaio de estúdio que ele faz uma boa aliada foi a música. “A foto de estúdio não tem cenário nenhum, é uma sala branca, sem nada. Quando você coloca uma música, você tem uma marcação rítmica, que acaba ajudando a pessoa a soltar o corpo.Como fotografo muito agência, e preciso ser rápido porque são muitos modelos, a música acaba ajudando”, diz.
Como a fotografia plus size é uma fotografia política, e por isso não há preocupação com retoques de pele ou uma pós-produção que mude os corpos reais das mulheres. “Se você for ver tutorial como fotografar modelos plus size, você vai ver que são truques para que as pessoas não pareçam gordas. Porque as mulheres não podem parecer gordas? Essas meninas querem fazer fotos, e querem que suas curvas fiquem evidentes”, diferencia Assunção.
“É um desafio, mas elas estão em êxtase com esse trabalho, com o fato de estarem saindo nos jornais”, conta Paixão. Para ela, um grande avanço, mesmo que a publicidade ainda não dê a abertura devida a corpos gordos e a mulheres negras.
A atividade faz parte do Novembro Negro do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), que conta com uma extensa programação em diversos museus sob sua gerência.
Exposição Nossas Curvas Não Se Curvam
Abertura em 20/11, às 10h | Visitação até janeiro: terça a sexta, das 10h às 17h; sábado das 13h às 17h
Roda de conversa, em 22/11, às 14h, “O empoderamento da mulher negra plus size”, com mediação de Cynthia Paixão
Entrada: grátis
Endereço: Rua Gregório de Mattos, 33, Pelourinho – Salvador (BA)
Contato: (71) 3117-6383
*Foto: Reprodução- Divulgação