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AGROPECUÁRIA E DESMATAMENTO RESPONDEM POR 23% DO ESTUFA

Redação - 09/08/2019 07:38

Desmatamento e agropecuária respondem por mais de 20% das emissões de gases de efeito estufa responsáveis pelo aquecimento global. A perda da vegetação, por sua vez, faz o planeta absorver cada vez menos o CO2 em excesso que está na atmosfera, minando ainda mais sua capacidade de combater as mudanças climáticas em curso. Atacar esses problemas, portanto, é fundamental para conter o aquecimento global.

Essa é uma das principais conclusões do novo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado na manhã desta quinta-feira, 8, em Genebra – o primeiro focado no uso da terra. Documentos anteriores do IPCC davam mais destaque para o papel da queima de combusíveis fósseis justamente por ser essa a principal fonte de gases de efeito estufa.

O novo trabalho traz um recorte sobre o uso da terra e mostra que se esse problema não for enfrentado juntamente com a redução das emissões no setor de energia, será impossível resolver a crise climática. A divulgação do documento deve aumentar a pressão internacional sobre países como o Brasil, em que a produção agrícola tem um papel econômico crucial e o desmatamento está em alta, ao mesmo tempo em que o governo tem questionado os dados que apontam essa elevação.

Apesar de optar por fazer uma análise mais geral sobre a situação do planeta, sem dar destaque para os países de modo individual, o painel acabou dando uma cutucada na forma como o governo brasileiro vem lidando com a Amazônia. Na coletiva de divulgação do relatório, o cientista alemão Hans-Otto Portner, co-chair do grupo de trabalho 2 do IPCC, afirmou que as mudanças que estão sendo feitas no Brasil no que se refere à gestão da Amazônia “contradizem todas as mensagens apresentadas no relatório”.

“(O uso) da terra exerce um importante papel no sistema climático”, disse um dos autores do relatório, Jim Skea, co-presidente de um dos grupos de trabalho do IPCC, em comunicado enviado à imprensa. “A agricultura, o desmatamento e outros tipos de uso da terra respondem por 23% das emissões de gases estufa (ocorridas no planeta entre 2007 e 2016) . Ao mesmo tempo, processos naturais da terra (como a fotossíntese) contribuem para a absorção de praticamente 30% das emissões de CO2 resultantes da queima de combustível fóssil e da indústria.”

Metade dessas emissões é de responsabilidade de desmatamento. Considerando somente o gás metano, a agricultura é responsável por metade das emissões. O setor é responsável ainda por 3/4 das emissões globais de óxido nitroso por causa do uso de fertilizantes. A expectativa dos pesquisadores é que, de um modo geral, as emissões de gases de efeito estufa da produção agrícola devem crescer em razão do aumento da população e da renda e de mudanças nos padrões de consumo.

A exploração atual de recursos naturais não tem precedentes na história da humanidade. Atividades humanas afetam mais de 70% de toda a superfície terrestre que não é coberta de gelo. E cerca de 1/4 está sujeita à degradação induzida pela humanidade. “Para conter o aquecimento do planeta a menos de 2°C (meta do Acordo de Paris), as emissões por queima de combustíveis fósseis têm de cair; só cuidar do uso da terra não vai solucionar o problema”, explica o meteorologista Humberto Barbosa, da Universidade Federal de Alagoas, autor do capítulo sobre degradação do uso da terra do relatório. “Mas atacar essa questão pode ajudar muito no esforço geral.”

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