Um dos setores mais afetados pela crise, a construção também tem sido um dos que enfrentam a maior dificuldade para sair dela – o que afeta a retomada econômica como um todo. Nesse cenário, o setor se tornou um dos pontos de discussão em torno da decisão do governo de liberar o saque de contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Os recursos do FGTS são usados para financiar programas de habitação, a exemplo do Minha Casa Minha Vida, e de obras de infraestrutura com juros mais baixos. Por isso, representantes do setor vinham se posicionando contra a liberação dos saques. No ano passado, a construção civil representou 4,46% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
Retomada lenta da construção:
Tomando como referência dos dados de antes da recessão, iniciada em 2014, os números apontam para o encolhimento do setor. Em 2013, ele estava em plena expansão: as empresas de construção realizaram incorporações, obras e/ou serviços no valor corrente de R$ 357,7 bilhões, registrando, em termos reais, expansão de 3,7% na comparação com o ano anterior. Já o dado anual mais recente, de 2017, é de que a atividade da construção gerou R$ 280 bilhões em valor de incorporações, obras e serviços – um recuo em relação aos R$ 318 bilhões do ano anterior. Os números são da Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A redução da atividade se refletiu no mercado de trabalho. Desde o período pré-crise, em 2013, o setor da construção civil já perdeu mais de 800 mil postos de trabalho formais, considerando dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) até maio de 2019. Especialistas comentam que uma das dificuldades em retomar os empregos nessa área vem da falta de confiança dos empresários do setor. O primeiro motivo são as dúvidas em relação ao potencial de reaquecimento do mercado imobiliário. Em cidades como São Paulo, por exemplo, os números de vendas de imóveis novos vêm subindo na comparação com o ano anterior. Com o desemprego ainda em alta, no entanto, a consistência dessa recuperação ainda gera incertezas.
Mas os analistas acrescentam que o principal fator que explica a demora para a indústria da construção começar a ganhar força é a trava nos investimentos públicos. Isso porque, com as contas públicas em dificuldades, o governo não investe em obras de infraestrutura e saneamento. “Por isso que a gente fala que o investimento é o indutor do processo de crescimento da economia. Na medida em que o governo está totalmente encrencado com o ajuste fiscal e não tem caixa para realizar essas obras, toda a economia acaba pagando de alguma maneira”, analisa o economista Otto Nogami, do Insper.
Essas incertezas explicam a falta de confiança dos empresários da construção. Na comparação com o pior momento da recessão, a confiança do setor voltou a subir, mas ainda não se recuperou do abalo da crise. É o que mostram dados do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) e Fundação Getúlio Vargas (FGV). O índice que mede a confiança do setor começou o ano de 2013 acima do patamar de 100 pontos. Atingiu mínimas na casa dos 60 pontos em 2016, até chegar aos 82 pontos do dado mais recente, de junho de 2019.
“Em 2016 a gente observou uma certa melhora depois de ter chegado ao ponto mínimo, mas a recuperação estava sendo muito mais lenta do que costuma ser. Até que a gente percebeu que em 2018 parou de subir”, aponta Rodolpho Tobler, economista da FGV/IBRE, completando que o cenário atual mostrado pelo índice é o de que “está havendo um aumento do pessimismo”. “Até o final do ano passado, tinha a perspectiva de melhora, com expectativas de leilões, reformas. Só que as coisas demoraram um pouco mais para acontecer, a atividade veio muito fraca”, diz o especialista.