Em meio às críticas sobre o documento preparado pelo governo que dá sinal verde para a compra no SUS de aparelhos de eletroconvulsoterapia (conhecido como eletrochoque), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que o texto preparado pela equipe está em discussão e poderá ter alguns tópicos alterados.
A informação diverge do que havia dito ao Estado a própria pasta anteontem, quando informou que o documento estava pronto.
Diante da notícia, a Associação Brasileira de Saúde Mental e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva avisaram que preparariam manifestos contra o documento do governo, considerado um retrocesso sem precedentes na política de saúde mental do País. “O texto publicado não é uma nota técnica, mas um documento político que agrada hospitais, setores que lucram com manicômios e com a medicalização”, afirmou Paulo Amarante, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz e integrante da Associação Brasileira de Saúde Mental.
Para críticos, a política preconizada na nota do ministério coloca em primeiro plano intervenções autoritárias. “Parte-se do pressuposto que o dependente é criminoso, incapaz”, disse Amarante. Professor da Universidade Federal de São Paulo, Dartiu Xavier, foi enfático: “É como se todas as experiências bem sucedidas realizadas até o momento fossem deixadas de lado. Venceu o obscurantismo”, disse.
Nesta sexta, Mandetta procurou um tom conciliador. Disse que o uso de eletrochoque faz parte do arsenal terapêutico e que sua adoção, quando feita de forma humanizada e respeitando indicações técnicas não pode ser descartado. O ministro citou a importância do processo de desospitalização no País na área de saúde mental. Com a mudança, foram fechados vários hospitais de saúde mental que eram na época chamados de “depósitos”, de pacientes, com torturas e maus-tratos. O ministro, no entanto, disse que a pasta está preocupada com uma falha na assistência, sobretudo a dependentes químicos.