Deixar as diferenças de lado e governar para todos será um dos grandes testes para o presidente eleito, Jair Bolsonaro, que toma posse daqui a 51 dias, conforme avalia o filósofo Roberto Romano, professor de ética e política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). De acordo com ele, as semelhanças de Bolsonaro com o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump — que tem governado “apenas para quem o sufragou” — é um exemplo negativo, que não deve ser seguido pelo futuro chefe de Estado brasileiro.
Do contrário, poderá ver resistência de opositores e o enfraquecimento do apoio vigoroso que recebeu do eleitorado. A escolha do juiz Sérgio Moro para ministro da Justiça é, na avaliação do professor, um sinal positivo em vários aspectos. À sociedade, traz garantias do respeito a direitos que alguns grupos veem como ameaçados no novo governo. À gestão de Bolsonaro, proporciona maior força e respeitabilidade.
“Foi um golpe de mestre”, resume. Mas também embute riscos: “Moro pode se mostrar um rival do próprio presidente eleito”, disse Romano em entrevista ao Correio Braziliense. “Pode divergir em certos aspectos do programa ou dos mandados em relação, por exemplo, às manifestações do MST (Movimento Sem Terra). Ficou claro, na entrevista do Moro, que ele não compactua com a tipificação desses movimentos como terrorista. Isso pode trazer problemas para Bolsonaro”.