A expressão acima escrita em latim significa “Comida feita, companhia desfeita”, se for usada uma linguagem dita civilizada, afável ou bem-educada. Quando se está com raiva usa-se o popular “virando as costas para o parceiro” ou mesmo “cuspindo no prato em que comeu”.
A Petrobras está assim se comportando quando insiste em realizar a decisão equivocada de fechamento das fábricas de fertilizantes de Camaçari, na Bahia, e de Laranjeiras, em Sergipe. Em abril deste ano publiquei um artigo intitulado “Três alternativas para a Fafen” onde mostrava que o problema da baixa lucratividade das duas plantas poderia ser resolvido com uma das seguintes escolhas: uso de política diferenciada de preços; exploração de gás de folhelho; e arrendamento das unidades fazendo operação “swap” do gás natural consumido como matéria prima. A Petrobras fez ouvido de mercador.
As duas fábricas que a Petrobras deseja fechar, com a falsa afirmativa de que elas dão prejuízo, têm capacidade de produção conjunta de 36,3 mil toneladas de ácido nítrico, 1 milhão de toneladas de amônia e 1,1 milhão de toneladas de ureia além de quantidades menores de dióxido de carbono e sulfato de amônio.
Além de suprir toda a cadeia de fertilizantes, fornecendo o elemento N (nitrogênio) da tríade de nutrientes NPK indispensável para a agroindústria, o ácido nítrico e a amônia alimentam várias outras cadeias produtivas. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM) mais de duas dezenas aplicações desses produtos seriam prejudicadas pelo fechamento dessas unidades fabris: nylon, espumas, nitrocelulose, tintas e vernizes, explosivos, catalizadores, pigmentos orgânicos, resinas termofixas, galvanoplastia, mineração, limpeza industrial, ração de aves e suínos (aminoácidos), defensivos agrícolas, alimentício (glutamato monossódico, lisina, gás refrigerante), bebidas, metalurgia, açúcar e álcool, tratamento de água, agente redutor de NOx, couro e vários outros produtos químicos.
Nada justifica a redução de 700 empregos diretos e de tributos arrecadados pelos governos da Bahia e Sergipe numa Região em que o governo tem dificuldade de identificar oportunidades de investimentos para contrabalançar um pouco a atratividade exercida pelo Sudeste, por ter melhor infraestrutura industrial e maior mercado consumidor.
A Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen) começou a ser instalada na Bahia em 1962 com a denominação de Conjunto Petroquímico da Bahia (Copeb) para fabricar amônia e ureia usando gás natural como matéria prima. Antes disso a maior parte do gás produzido nos poços do Recôncavo era jogado fora, queimado. Em 1964 a montagem da fábrica foi paralisada pelos militares que estavam no poder. Ela voltou a ser construída no final da década e foi inaugurada em 1971, no mesmo local onde em janeiro de 1974 seria iniciada a terraplenagem para instalação do Polo Petroquímico de Camaçari. A Fafen de Sergipe foi construída no início doa anos 80.
Naquela época a Bahia era o estado maior produtor de petróleo e gás natural do Brasil. Hoje é o quinto. Desde que a Petrobras se voltou para a Bacia de Campos, usando plataformas para águas rasas fabricadas na Bahia, que a monopolista passou a reduzir os investimentos na Bacia do Recôncavo, dando-lhe as costas. Agora, quando anuncia a venda da Refinaria de Mataripe e do Terminal de Madre de Deus, quer também paralisar as Fafens, alegando que são deficitárias. Invista em novas tecnologias, modernize as plantas, use as soluções indicadas para a Fafen e poderá verificar a inveracidade da alegação.
Vale a pena relembrar uma frase do ex-governador Luiz Viana Filho, em 1984, referindo-se à indústria petroquímica: “A estrada era longa e cheia de percalços. Cada passo exigiu algum sacrifício. Cada vitória teve um preço, por vezes alto, mas que devia ser pago para se alcançar o objetivo de assegurar aos baianos uma perspectiva de desenvolvimento”.
Adary Oliveira é presidente da Associação Comercial da Bahia – [email protected]