No início deste mês, Janaína Silva Cândido, de 27 anos, voltou a trabalhar com carteira assinada. Conseguiu uma vaga numa indústria, com direito a refeição e vale-transporte. Mas essa situação já tem prazo para acabar: o contrato de Janaína é temporário, vale por 180 dias. Por conta da crise, os contratos temporários – mais comuns nesse período, quando as empresas precisam reforçar a produção e as equipes de vendas em função do movimento de fim de ano – têm se tornado o único contrato fixo de muitas pessoas.
Janaína é um exemplo disso. Seu último emprego fixo, sem prazo determinado, foi em uma fábrica de biscoitos. Era auxiliar de empacotamento. Ficou por um ano e dois meses. Foi demitida em setembro de 2016, numa leva de cortes. De lá para cá, distribuiu, sem sucesso, currículos em agências de empregos e em empresas. Mas a chance de conseguir um emprego permanente, por tempo indeterminado, ainda não apareceu.
“No ano passado, trabalhei como temporária na empresa em que estou hoje”, disse Janaína. De fevereiro a setembro, o máximo que conseguiu foram bicos como manicure num salão de cabeleireiro na rua onde mora, em São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo. Não há uma estatística que mostre quantos brasileiros têm feito do trabalho temporário a única ocupação fixa. Mas haverá mais chances de contratações este ano.
Segundo projeções do SPC Brasil e da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), deverão ser ofertadas 59,2 mil vagas temporárias no setor de comércio e serviços neste fim de ano, mais que as 51 mil vagas criadas em 2017. “O volume de temporários neste ano é a metade de um bom mês do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Há uma discreta melhora”, diz Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil.