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ENDERSON MOREIRA FAZ DURAS CRÍTICAS AO FUTEBOL BRASILEIRO

Redação - 08/10/2018 07:40

O Bahia fez, no último sábado, sua 63ª partida na temporada. É um dos clubes brasileiros que mais entrou em campo em jogos oficiais neste ano. Como resultado, o técnico Enderson Moreira tem tido dificuldades, vez ou outra, para montar o time titular e tem optado por poupar atletas quando pode. Foi o caso da partida da última quarta-feira, contra o Botafogo, pela Sul-Americana, quando Ramires, Lucas Fonseca e Gregore ficaram fora da lista de relacionados. No último sábado, após o empate polêmico com o Grêmio, o treinador do Bahia foi questionado a respeito do calendário apertado do Tricolor. Apesar de cauteloso, Enderson Moreira não se furtou de responder e foi direto: disse que a CBF pensa pouco no Campeonato Brasileiro e destacou a falta de união entre os clubes.

– Não sei se vou falar bobagem. Vou falar como profissional que sou e acho que vivo disso, tenho o maior respeito pelo futebol. Eu acho que a CBF pensa pouco na competição. Ela pensa… E acho que não é só CBF. Tem muitos interesses, quem paga, tem muita coisa… A gente pensa pouco no espetáculo. Os clubes não têm unidade nenhuma. Infelizmente. Cada um quer puxar para o seu lado. “Se eu estou ganhando mais aqui, o outro que se dane”. A gente não entende que, se a gente equilibra as receitas um pouquinho melhor, como o futebol inglês está dando aula para todo mundo… 50% é da mesma forma, para todo mundo, é do mesmo jeito. Os outros 50% vai de público, de ranking, sei lá… Se a gente não equilibra um pouquinho, daqui a pouco a gente vai ter um campeonato espanhol aqui. Isso é bacana para quem? Para quem compra? Para quem vê? Ver um campeonato em que vai acontecer só isso? – afirmou o técnico do Bahia.

O treinador lembrou a resistência que alguns clubes têm desenvolvido às convocações de seus atletas para seleções, devido ao calendário do futebol brasileiro. Ele afirmou que, em certas situações, é preciso torcer para um jogador não seja convocado, para que a equipe não fique desfalcada em partidas fundamentais. É o caso do Cruzeiro, que não terá, nas finais da Copa do Brasil, Arrascaeta, convocado pela seleção do Uruguai.

– Só que quem comanda o futebol? Comanda no sentido de poder pensar o Campeonato Brasileiro? Pensar em quantas datas, o que é melhor… Temos jogos na data-Fifa. Temos jogos… Do campeonato. Temos jogador que ia desfalcar equipe em fase decisiva de Libertadores, Copa do Brasil, para poder estar na seleção. Não dá, cara. Qual o privilégio? O clube começa a gostar mais daquilo que a gente não acredita. É melhor não convocar. Tem clube pedindo para atleta não ser convocado. Absurdo isso. Como a gente pode pensar num atleta que não vai ser convocado para a seleção, um clube pedir, a valorização que é, o reconhecimento, a mídia, aquilo que agrega de valor ao atleta e ao clube. Só que a gente está começando a ir na contramão. A gente não quer, porque faz diferença, perde qualidade técnica… A gente não consegue pensar o futebol. Não tem ninguém que pense – avaliou Enderson Moreira.

Para o treinador, o calendário apertado interfere diretamente na qualidade do futebol apresentado em campo. Ele destaca o alto nível de competitividade do futebol brasileiro, mas lembra que, diante da quantidade de jogos, fica difícil manter a qualidade do espetáculo em campo. – Eu desconheço, em outro lugar, onde tenha tanta competitividade. Nós temos pelos menos cinco, seis clubes, que podem buscar o título ainda. Nós temos ainda pelo menos, sei lá, quantos para trás que estão brigando por vaga ainda na Pré-Libertadores, Sul-Americana. Zona de rebaixamento, está todo mundo muito perto, muito próximo… […] Então a gente tem um espetáculo nas mãos extremamente bacana, mas a gente se organiza pouco para ele, a gente não prepara, não pensa. Não é bacana jogar toda quarta e todo domingo durante dois, três meses. Nem o torcedor tem, talvez, dinheiro suficiente para poder acompanhar. Nem a gente consegue ver tanto jogo, cara. A gente precisa recuperar atleta para o nível da competição se elevar cada vez mais. Esse é o comentário de um mero profissional, que gostaria que o futebol brasileiro, pela sua qualidade, pelos seus profissionais… Metem o pau na qualidade do treinador brasileiro. Eu queria ver também os outros aqui se debatendo com esses problemas.

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