O Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) pede que o youtuber Júlio Cocielo seja condenado a pagar mais de R$ 7 milhões por dano social coletivo devido ao post sobre a performance do jogador da seleção francesa Kylian Mbappé durante a Copa do Mundo. A mensagem, que depois foi apagada, dizia: “Mbappé conseguiria fazer uns (sic) arrastão top na praia, heim?”. Uma ação civil pública foi ajuizada contra Cocielo por racismo nesta quarta-feira (12) pelos promotores de Justiça de Direitos Humanos Eduardo Valério e Bruno Orsini Simonetti. Procurada por QUEM, a assessoria de imprensa do youtuber afirmou que não vai se pronunciar sobre o caso.
Os promotores pedem que seja decretada a quebra do sigilo bancário do réu para subsidiar a sua condenação na obrigação de pagar a quantia imposta (R$ 7.498.302). “Trata-se de um jovem jogador negro, francês de ascendência camaronesa, de compleição física robusta e que mostrou, nos jogos da seleção francesa na Copa da Rússia, impressionantes velocidade e explosão, daí advindo, em notória manifestação de racismo, a sua associação com os assaltantes (negros, na ótica do autor) que praticam crimes de roubo nas praias brasileiras, sobretudo fluminenses, sempre sob contínua e desabalada corrida”, escreveram os promotores de Justiça.
Ainda de acordo com a ação, o influenciador digital publicou comentários racistas nas redes sociais entre 2010 e 2018 de forma sistemática. Dessa forma, na análise dos promotores, ele utilizou o Twitter para violar direitos fundamentais, além de ofender e violar os direitos humanos, a Constituição Federal e Tratados Internacionais de Direitos Humanos. Depois de gerar revolta na web, Cocielo apagou mais de 50 mil tuítes antigos. Antes do comentário sobre o jogador francês, publicado no último 30 de junho, o youtuber contava com 81,6 mil posts no Twitter. No dia seguinte, havia 32,4 mil, incluindo um pedido de desculpas pelo comentário sobre o jogador. No dia 2 de julho, o número de publicações caiu novamente, dessa vez para 29,2 mil. Entre as postagens apagadas, uma de 2013 dizia: “gritei vai macaca pela janela e a vizinha negra bateu no portão de casa pra me dar bronca”.
O youtuber, que teve contratos com grandes marcas cancelados após a polêmica, quebrou o silêncio e se pronunciou sobre o caso no último dia 2 de julho. “Estou consciente do meu erro. Não tenho razão nenhuma. O comentário foi tão infeliz”, disse ele no vídeo. Fiz um comentário muito mal explicado e gerou toda essa confusão que você está vendo agora. Tentei me referir a velocidade do jogador dele. O comentário tão infeliz e mal explicado, que acabou ofendendo algumas pessoas. Entendo muito bem a revolta que rolou”, disse ele, que foi pesquisar sobre o racismo para poder entender o motivo de seu comentário ter sido considerado racista. “Meu intuito nunca foi ofender ninguém. Quando eu vi que estava ofendendo, deletei”, explicou ele, que negou ter apagado diante da pressão que recebeu das marcas com as quais tinha contratos.
Cocielo também comentou os posts que fazia nas redes sociais antes de cunho racista. “Sobre os tweets antigos, tem muitos de quando eu tinha 16 anos de idade. Aquele monte de merda que eu falei é muito distante de quem eu sou hoje e do tanto que a minha vida evoluiu. O eu de um dia atrás já não é o eu de agora. Não sou uma pessoa que quer espalhar o racismo. Hoje leio aquilo e me sinto envergonhado. Foram coisas absurdas. Eu postava supostas piadas que ouvia em stand up, em blog, programas de humor… Não tinha noção do peso que isso teria hoje. Com isso aprendi que o que eu falei não é piada hoje, ontem e nem amanhã. Apareceu hoje em dia fora de contexto. Não era maldade. Não é a minha opiniãoe nunca foi. Sem querer espalhei o ódio e acabei sendo o que não sou.”
Ele ainda pediu desculpas para sua família e amigos. “Apaguei 50 mil tweets ou mais porque quero recomeçar. Esse tombo que tomei vai servir para isso nunca mais se repetir. Desculpa família, amigos, seguidores e a todos”, disse.