O sol ainda não tinha nascido quando a aposentada Maria da Glória Silva, de 69 anos, chegou na fila do Centro de Saúde do bairro de Pernambués, em Salvador, na última terça-feira (31). Desde às cinco da manhã, Maria e outras seis pessoas já aguardavam em frente a unidade, em busca de atendimento. “A gente chega cedo para tentar garantir a vez. Tomara que tenha médico”, disse outro aposentado que preferiu não revelar o nome.
Moradora do bairro de Canabrava, a dona de casa Sheila Santana avalia como “péssimo” o atendimento nas UPAs e Postos de Saúde de Salvador. “Tentei levar minha vizinha no posto daqui do bairro e não tem médico clínico. Não se faz exame de laboratório há um mês e não está fazendo exame de glicemia. Quando a gente precisa nunca tem”, reclamou.
De acordo com os profissionais ouvidos pela Metrópole, a ausência de material hospitalar também é recorrente nas unidades de saúde. “Falta curativo e medicações básicas de hipertensão. A gente tem que fazer a prescrição com o que tem”, relatou uma médica que não quis se identificar.
De acordo com outra médica da rede municipal que também preferiu o anonimato, os profissionais lidam ainda com a cobrança de uma meta diária de atendimentos. “Foi uma portaria da prefeitura para que nós, médicos, atendêssemos 12 pacientes por turno. Tem uma cota de atendimento por dia. A gente trabalha oito horas por dia, se você pegar essas oito horas e dividir por 24 pacientes [dois turnos de 4 horas de trabalho] dá o equivalente a 20 minutos de atendimento ou menos. O que não dá para fazer um atendimento digno, é impossível”, relatou.