A Copa do Mundo reúne a nata do futebol e de quatro em quatro anos os melhores jogadores do planeta têm a oportunidade para escrever seu nome na história do torneio. Porém, recentemente, os grandes astros não conseguem atuações épicas. Desde que a Fifa inaugurou a premiação para coroar o destaque da temporada, em 1991, nenhum craque consagrado por ela se destacou, nem mesmo com a artilharia da competição. Agora na Rússia, é a vez do português Cristiano Ronaldo, melhor do mundo em 2017, tentar acabar com essa escrita. Qual seria a explicação do melhor do mundo não jogar tudo o que sabe no maior campeonato? O calendário pode ser uma das justificativas. Com mais jogos e a temporada europeia terminando praticamente há um mês e meio da Copa, quem joga mais, o físico é mais exigido.
Dois jogadores chegaram perto de se consagrar na Copa com o status de melhor do mundo. Roberto Baggio, em 1994, e Ronaldo, em 1998. O italiano fez uma boa competição, marcando cinco gols e sendo decisivo nos mata-matas. Porém, na final, estava lesionado e acabou marcado pelo pênalti perdido contra o Brasil. Já o Fenômeno, que anotou quatro tentos, chegou à decisão embalado após uma bela atuação na semifinal contra a Holanda. Mas antes do jogo contra a França, teve uma convulsão e não conseguiu jogar o esperado, no revés por 3 a 0.
Nos Mundiais de 2002 e 2006 a sina se repetiu. Grande esperança de Portugal, Luís Figo aparecia como a estrela da edição na Coreia e Japão, mas os lusitanos caíram na fase de grupos, com apenas uma vitória. Quatro anos depois, na Alemanha, a vez era de Ronaldinho Gaúcho. Eleito melhor do mundo dois anos consecutivos, o brasileiro tinha tudo para levar o Brasil ao hexa depois de conquistar a Champions League pelo Barcelona, um mês antes. Porém, Zidane e cia atrapalharam o sonho nas quartas de final. R10 inclusive não marcou nenhum gol.
Nas primeiras duas Copas da era Messi e Cristiano Ronaldo, os astros de Barcelona e Real Madrid também decepcionaram. Em 2010, na África do Sul, o argentino até se esforçou bastante. Na edição do torneio, o camisa 10 deu 30 chutes (15 na direção do gol), mas não balançou as redes. Com uma seleção sem um esquema tático definido e, com Maradona como técnico, teve um final melancólico, eliminada nas quartas de final, após uma goleada para a Alemanha por 4 a 0. Já no Brasil, em 2014, CR7 chegou com problemas físicos e viu Portugal cair ainda na fase de grupos. Apesar disso, o português foi o que mais chutou a gol, com 23 disparos.
Com uma precaução maior para evitar lesões na temporada europeia, Cristiano Ronaldo pode acabar com a sina na Rússia. O atacante foi poupado em diversos jogos do Real Madrid e tem tudo para chegar no auge da forma. Pelo menos é o que acredita o comentarista Raphael Rezende, mas com ressalvas. “Possivelmente ele chega muito mais inteiro do que na Euro, em 2016, por exemplo, onde Portugal chegou, buscou o título, ele não foi, por mais que tenha feitos gols decisivos, o cara da final e saiu lesionado. Acho que ele chega mais inteiro não só por esta última temporada, mas pelas duas últimas, onde ele atacou na hora certa, teve grandes feitos na reta final. Acho que isso pode ajudar. Acho que o que pesa contra é o limite de Portugal. É ver onde pode chegar”, disse.
Copas de 2010 e 2014: o conjunto como destaque
A última Copa que um campeão mundial foi agraciado com o prêmio de melhor da Fifa aconteceu em 2006, quando Fábio Cannavaro foi eleito, após o título da Itália. Em 2010 e 2014, a equipe campeã não teve o jogador mais valioso do planeta. A explicação é simples: o conjunto foi o “Bola de Ouro”. Porém, para Raphael Rezende, este Mundial da Rússia tem tudo para quebrar com esse tabu.
“O que aconteceu com as duas últimas campeãs do mundo foi que acreditaram no trabalho coletivo. Tinham ótimos jogadores, referências, mas não os acima da média, o definidor. Acho que quem pode quebrar esse quadro é o próprio Brasil, com o Neymar, embora tenha sucumbido na temporada europeia (ficou fora da parte final por lesão no pé). A França teria no Griezmann, Mbappé, talvez, mas acho que mais para frente. As duas seleções que têm talentos individuais, que se afirmando como campeãs, podem buscar esse título de melhor do mundo, tirando o Messi, com a Argentina, são Brasil e França. A Espanha não tem uma referência como essa”, ponderou o jornalista.