Quando engravidou pela primeira vez, a fisioterapeuta Suely Alves Higa, 38 anos, mãe de Gabriel, 3 anos, e de Lucas, 1 ano e meio, focou justamente no lado mais pesado da alimentação. Ela conta que ficou cheia de medos e baniu vários ingredientes do dia a dia. “Desconfiava dos restaurantes e, mesmo em casa, exagerava na higiene de frutas e verduras”, diz. As refeições eram sempre motivo de grande preocupação, nunca de prazer. Ao ficar grávida do segundo filho, entretanto, ela decidiu relaxar um pouco e abrir mais espaço para a satisfação à mesa. “A relação com a comida melhorou bastante e passei muito bem”, relata. Suely continuou zelosa, mas sem neuras.
Esse resgate tem tudo a ver com uma abordagem cada vez mais consolidada pela ciência, o mindful eating, e que desponta como aliado das grávidas. Na tradução para o português o termo significa “comer com atenção plena” e traz o foco para as sensações corporais e emocionais. O conceito remonta ao mindfulness (atenção plena, consciência plena, relacionado à capacidade de se concentrar totalmente nas experiências, atividades e sensações) que, por sua vez, está ligado a práticas de meditação milenares do mundo oriental (veja mais no quadro Refeição Plena). “Envolve reservar o tempo da refeição para perceber sabores, texturas, cores, temperaturas, aromas, enfim, se dedicar exclusivamente ao ato de comer”, explica a nutricionista Gabriela Halpern, do Centro de Fertilização Assistida Fertility (SP).
Gabriela comenta que a prática tem se destacado em estudos por estar atrelada a benefícios durante a gravidez. Em um desses trabalhos, publicado no periódico científico Appetite, pesquisadores australianos avaliaram um grupo de 139 gestantes e observaram que a técnica contribui para a redução dos excessos alimentares. É que quando não há muitas distrações à mesa, ocorre uma maior percepção dos sinais internos de saciedade. Isso breca aquele impulso de devorar porções maiores sem perceber. Trata-se, portanto, de uma arma contra a obesidade e seus riscos.
Segundo os especialistas, o ideal é ficar em dia com a balança já no planejamento da gravidez. Trata-se de uma oportunidade para adquirir hábitos saudáveis que vão além do cardápio. Incluir a atividade física na rotina e tentar atenuar o estresse, por exemplo, são medidas que dão um empurrãozinho na fertilidade e devem se estender, não só ao longo dos nove meses, mas para a vida inteira.
Aproveitar o momento diante da comida, apreciar o alimento, sentir prazer no ato de comer, tudo isso pode ser muito útil no dia a dia da gestante. Mas, claro, a premissa de escolher bem o que colocar no prato continua importante. Porque, sim, o que e como a grávida come interfere na sua saúde e na do bebê, inclusive fora da barriga. Pesquisas no mundo todo dão conta dessa relação tão delicada. Uma delas, realizada na Dinamarca pelo Danish National Birth Cohort, acompanhou mais de 63 mil mulheres durante quatro anos, e concluiu que a alta ingestão de glúten na gravidez pode aumentar o risco de os filhos desenvolverem diabetes tipo 1. Na Europa, casos da doença vêm aumentando de 3% a 4% ao ano, especialmente entre crianças até 5 anos.
Outro exemplo de como a alimentação interfere na saúde materna e da criança: um estudo publicado recentemente no American Journal of Preventive Medicine analisou o uso de açúcar na dieta de 1.234 grávidas. Ele constatou que os filhos daquelas com maior consumo na gestação, particularmente bebidas adoçadas com a substância, tinham menores escores cognitivos de memória, habilidades verbais e motoras. As dietas das crianças, após o nascimento, foram cruzadas com avaliações de raciocínio aos 3 e aos 7 anos, e a análise também apontou menor inteligência verbal. Por essas e outras, nada melhor do que ficar atenta, sem obsessões, às melhores alternativas para incluir no cardápio diário. A seguir, veja alguns bons aliados e outros nem tanto, em termos de alimentos e hábitos.