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ERIK FIGUEIREDO:LUXO,OSTENTAÇÃO E O ‘POPOZÃO’ NO CHÃO

Redação - 31/01/2019 13:58 - Atualizado 05/04/2019

Tive a oportunidade de presenciar as comemorações 4 de Julho (dia da independência) nos Estados Unidos. Morava em uma cidade média no interior de um estado sulista, o Tennessee. Palco montado na praça central. Famílias se aglomerando para assistir o show e a queima de fogos. No início da noite uma banda sinfônica iniciou sua exibição. Até então as pessoas se acomodavam de forma ordeira e saboreavam seus petiscos. Um homem desajeitado começou a dançar para agradar ao seu filho pequeno. De imediato ele virou o centro das atenções e os outros pais também começaram a dançar de forma a dissipar os risos. Bebidas alcoólicas não eram exibidas. Vez por outra alguém tomava um trago com uma garrafa escondida em saco de papel. Às 22:00h o show acabou e todos puderam se dirigir para suas casas.

Esse pequeno relato serve para ilustrar uma característica marcante da sociedade norte americana: a proteção às crianças. Eles buscam manter um ambiente familiar, aonde quer que seja, mesmo em uma festa de rua. De forma alguma uma criança é exposta aos costumes privados dos adultos. Não há casais se acariciando em praças. Não há bares próximos a bairros residenciais, tampouco pessoas bebendo nas ruas. Crianças precisam ter sua inocência preservada. Cada coisa tem seu tempo.

Na contra-mão desse comportamento, evoluímos em direção à barbarie. Somos capazes de criar espaços kids rodeados de pornografia implícita. Enquanto os pais se embriagam nos bares da moda, os filhos pulam nas piscinas de bolinhas ao som de Aldair Playboy. Ambientes sofisticados? Temos muitos. Arquitetura de primeira, boa comida, boa bebida e mentalidade de quinta. Nem conseguimos identificar os absurdos aos quais os nossos filhos são expostos. Só queremos curtir o momento. Trocamos a expressão “piscina na favela”, por uma mais pomposa: “caixa de brasilit no quintal de uma mansão”.

O tempo passa, nossos filhos crescem e ingressam na universidade achando que irão protagonizar um remake do American Pie. Na formatura eles colocam uma roupa ridícula, um óculos estilizados e um chapéu que cospe fogo. Os anos de faculdade não conseguiram arranca-los da adolescência. Eles ganham dinheiro. Se Casam. Têm filhos e os jogam na piscina de bolinhas do bar onde todos rebolam de biquíni e sunga. Assim o ciclo continua. Como em um anti-climax da famosa cena do jogo de xadrez entre o cavalheiro e o diabo em o “Sétimo selo” de Ingmar Bergman, onde concluímos que ‘nascemos para morrer, no meio jogamos xadrez’; o povo brasileiro também nasce para morrer, só que, a cada ano, espera ansiosamente pelo próximo hit do verão.

Esse cenário devastador parece contribuir de forma decisiva para o desenvolvimento do nosso país. Em uma breve reflexão sobre a importância da cultura para o crescimento econômico, o diretor de desenvolvimento econômico do World Bank, Augusto Lopez-Claros, conclui:

“In saying that education and the acquisition of knowledge and skills are desirable development objectives we are making a statement that holds true across different regions of the world, that applies to all contemporary civilizations. Of course, societies will differ in the ways and the extent to which they have internalized some of these values in their policies, their traditions and their institutions.”
(Ao dizer que a educação e a aquisição de conhecimento e habilidades são objetivos de desenvolvimento desejáveis, estamos fazendo uma afirmação que vale para diferentes regiões do mundo, que se aplica a todas as civilizações contemporâneas. Naturalmente, as sociedades diferem nas formas e na extensão a que eles internalizaram alguns desses valores em suas políticas, suas tradições e suas instituições. Tradução livre)

O grifo destaca exatamente a motivação econômica desse meu breve artigo. Enquanto não internalizarmos os valores da educação e da obtenção de habilidades voltadas para o desenvolvimento pessoal e, por conseguinte, da nossa nação, continuaremos a ser o eterno país do futuro. Futuro que nunca chega. Nosso maior desafio é microeconômico. É transformar as pessoas.

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