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A. AVENA: NELSON RODRIGUES E A PÁTRIA DE CHUTEIRAS

Redação - 06/07/2018 05:00 - Atualizado 06/07/2018

O Brasil tem horror aos heróis. Aqui, ao sul do Equador, aquele que se atrever a dar sua alma por um ofício, uma causa ou uma vontade, e com isso tornar-se  brilhante e destacado naquilo que faz, corre o risco de ser avacalhado ao primeiro descuido. E avacalhar é uma expressão bem brasileira que significa diminuir a importância de algo ou alguém, talvez na vã ilusão de que assim todos se igualam.  Nelson Rodrigues percebeu isso com perfeição ao dizer que o brasileiro é “um povo que berra o insulto e sussurra o elogio”.

Nesse momento, por exemplo, o herói brasileiro é Neymar e nos três primeiros jogos o craque foi espezinhado. Berrou-se todo tipo de insulto, desde ofensas à sua masculinidade por conta do cabelo enfeitado, até criticas ao seu caráter, supostamente afeito a quedas e dissimulações, e mesmo à sua capacidade técnica. Na partida contra o México, no entanto, Neymar mostrou toda sua virtuose e aí, sem ter como berrar o insulto, sussurrou-se o elogio. Diferente de outros povos que exaltam exageradamente seus heróis – e tanto Cristiano Ronaldo quanto Messi, apesar de endeusados, tiveram desempenho pífio nessa Copa –, o brasileiro tende a depreciar as qualidades do seu ídolo e destacar sua imperfeição.

Não foi assim com o próprio Nelson Rodrigues, que foi execrado no Brasil por causa de suas posições políticas, embora fosse um dos mais importantes dramaturgos do mundo, digno de estar no pódio ao lado de Tennessee Williams e Eugene O’Neill? Não é assim com Chico Buarque, um dos maiores músicos populares de todos os tempos, e que anda por aí sendo execrado nas ruas e nas redes sociais simplesmente por ter a liberdade política de escolher? Bem diferente de Jorge Luiz Borges, que foi um reacionário empedernido, mas poucos argentinos se prestam a denegrir a imagem daquele que foi um dos maiores escritores de todos os tempos.

E o Brasil é tão curioso que alguns brasileiros desmerecem o esporte em que são os melhores do mundo, alguma coisa próxima a ingleses detestando o críquete  ou americanos amaldiçoando o rugby. E em prol da duvidosa ideia de que  o futebol aliena o povo, muitos torcem contra seleção na vã ilusão de isso terá qualquer efeito político. Mal sabem eles que nosso futebol, como nossa música, nos engrandece e nos põe no mundo como vencedores. Nelson Rodrigues percebeu isso e em 1958, declarou: “O triunfo, na Suécia, em 58, foi para nós tão importante como a Primeira Missa. Começava o Brasil. Nós nos inaugurávamos. Tudo o que ficava para trás era o pré-Brasil. E basta comparar. Até 58, o brasileiro não ganhava nem cuspe à distância. O sujeito dormia enrolado na derrota como num cobertor. Ninguém acreditava no Brasil, nem o Brasil acreditava em si mesmo”.

Nelson tinha razão, ganhar a Copa aumentou a auto-estima do Brasil. E por cinco vezes, o futebol mostrou ao mundo que o Brasil podia ter o destino dos vencedores. Nesta sexta-feira, a seleção brasileira volta a campo e mais uma vez para enfrentar os europeus que, é sempre bom lembrar,  estão muito aquém dos brasileiros quando o assunto é música, futebol, criatividade e festa e isso nos diferencia e torna único nosso povo. É verdade que podemos perder, e até dar um vexame como aquele frente à Alemanha, mas é bom saber que dessa vez foi a poderosa Alemanha que voltou para casa com o rabo entre as pernas.

Além disso, perder faz parte do jogo, faz parte vida. No futebol, como na vida, as vezes a gente perde, as vezes a gente dá vexame, mas as vezes a gente ganha e o grito da vitória ensina tanto quanto o choro da derrota. O Brasil vai entrar em campo nesta sexta-feira e enfrentar a Bélgica e,  perdendo ou ganhando, o escrete canarinho, como Nelson Rodrigues chamava a seleção, é quem abriga nossos heróis por isso a pátria tem de estar de chuteiras, não importa qual seja o resultado da peleja.

                                                      WALDIR PIRES

No último dia 25, ao  chegar ao Jardim da Saudade para despedir-me de Waldir Pires – um herói da política brasileira, forjado num tempo em que ainda havia heróis na política – lembrei-me de Friedrich Hegel. Hegel baseou sua ideia de Estado no binômio razão e liberdade e num corpo de funcionários virtuosos, capaz de colocar o interesse público acima do interesse privado. Waldir Pires foi um político hegeliano que colocou a liberdade acima de tudo e que sempre agiu de modo a que o interesse público estivesse acima do interesse privado. Waldir era um democrata, naquilo que há de mais puro no termo.

E se muitas vezes concordei com ele, outras tantas divergi, mas Waldir permitia o contraditório, só não transigia com os princípios que davam corpo à sua atuação política. Se no trato com a política Waldir foi um modelo de homem público, no âmbito familiar foi um exemplo de pai, marido, avô e bisavô. Mesmo passando por momentos históricos dramáticos, mesmo sofrendo com o exílio, Waldir e Yolanda mostraram que é possível fazer política e ao mesmo tempo consagrar a vida a família. Foi um casal especial na política baiana e ambos terminaram a carreira o mais próximo possível do povo que amavam, exercendo  mandatos de vereador na Câmara Municipal de Salvador. Mas Waldir e Yolanda não morreram,  por sua trajetória, pela luta em prol da Bahia, seguem encantados, brilhando na nossa história.

                                                    CIRO E O DEM

O Prefeito ACM Neto já não esconde de ninguém sua preferência por uma aliança com Ciro Gomes, candidato do PDT à Presidência da República. A alternativa seria apoiar o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, mas tanto o ex-governador de São Paulo quanto o seu partido estão definhando em todo país. Há resistências em apoiar Ciro e problemas em estados como Rio de Janeiro e Bahia, onde o PDT apoia o governador Rui Costa, mas nada que não possa ser resolvido com boas conversas. Na Bahia, o apoio do DEM é fundamental para Ciro Gomes, afinal, sem ele, o presidenciável não terá palanque no Estado. Com isso, a eleição na Bahia pode ser com ou sem emoção. Se o DEM pender para Ciro Gomes vai ter emoção, se não…

                                           BAHIA: UM PROGRAMA PARA A ECONOMIA

 Os candidatos à governador precisam apresentar um programa de governo estruturado para a Bahia. A economia baiana vem perdendo dinamicidade nos últimos anos e essa tendência precisa ser revertida. Entre 2006 e 2016, por exemplo, o crescimento acumulado do PIB baiano foi de 20,4%, bem abaixo do crescimento nacional, que foi de 26,6%, segundo dados da SEI – Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais. Os candidatos precisam dizer o que vão fazer para retomar o dinamismo da economia baiana. E é sempre bom lembrar que não se faz plano de governo visitando cada município e listando suas demandas. É preciso mais, é preciso definir a meta, escolher a  estratégia e dizer de onde virão os recursos.

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