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JULIANA PIMENTEL: COPA DO MUNDO:DESPERTAR DE SENTIMENTOS

Redação - 19/06/2018 07:55 - Atualizado 19/06/2018

Assunto infindável para narrativas de Nelson Rodrigues, estudos sociológicos, pesquisas antropológicas e muito pano para manga para discussões em mesas de bar, a Copa do Mundo foi, é e sempre será, assunto que rende inúmeras reflexões. Há mais ou menos 15 dias, o Datafolha realizou uma pesquisa sobre o interesse dos brasileiros no Mundial deste ano e o resultado surpreendeu: 53% dos brasileiros entrevistados afirmaram desinteresse na Copa.

No entanto, no último domingo durante o jogo, ficou evidente que agora, com a estreia da seleção, esse tal desinteresse não é tão grande assim. Seja no barulho das vuvuzelas pelas ruas, nas bandeiras penduradas nas sacadas, nos rostos pintados de verde e amarelo ou, até mesmo, nos “memes” das redes sociais, algo é perceptível: não tem como ser indiferente à Copa do Mundo.

 A fraqueza da economia e o período de ressaca da greve dos caminhoneiros tiveram influencia direta em tais pesquisas. As pessoas continuam indignadas com a situação do país e, para alguns, fugir para o exterior continua sendo a “única solução” para os problemas da burguesia. Contudo, o que parece é que os ânimos ficam extasiados quando se tira a camisa verde e amarela do armário, logo ela, que, até pouco tempo, envolvia cálculos políticos consideráveis para ser vestida.

O desinteresse evidenciado nas pesquisas não deixa de ser um alerta estridente das crises de representação vividas pela população brasileira. Muito além do memorável e desastroso 7×1 do último Mundial, está o descontentamento político, que traz consigo frustrações ideológicas e sociais de um povo que se encontra desamparado em ano de eleição.

Por outro lado, a movimentação do último domingo é mais uma expressão de um sentimento que talvez nem Freud possa explicar. Por mais que a popularidade não esteja no seu auge e que o empate não tenha alavancado a empolgação da torcida, é evidente que os sentimentos de pertencimento e união começam a demonstrar, mesmo que timidamente, as suas facetas.

O despertar desses sentimentos poderá ser facilmente identificado em mesas de bar, salas de estar, pelas ruas… Pode ser que, esse momento seja algo positivo para uma nação que, depois de logo período, passará, de certa forma, a se enxergar “unida” por um motivo em comum. Pode ser que, durante esse mês o binarismo ideológico simplista entre direita e esquerda seja atenuado pela consciência de que o que se busca é um país melhor para todos. Ou, pode ser que, essa utopia não passe apenas de uma ilusão gerada pela atmosfera criada durante esse mês atípico. Enquanto não chegamos a essas conclusões, seguimos nos envolvendo com sensações que parecem despertar de um sono profundo após quatro anos.

 

JULIANA PIMENTEL

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